sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Murilo Mendes


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   Murilo Monteiro MendesO autor fazia parte de um grupo que, na década de 30, encontrou no cristianismo o refúgio para as crises política e ideológica pela qual o mundo passava. Dessa forma, esse conjunto de escritores da segunda geração moderna era chamado de espiritualista. Além de Murilo Mendes, fizeram parte desse grupo: Vinícius de Moraes e Cecília Meireles. Contudo, essa fase religiosa continuava agregada à realidade social e era um pressuposto para trazer o catolicismo mais voltado aos problemas sociais. 

Seu primeiro livro, intitulado “Poemas” foi publicado em 1930 e recebeu o Prêmio Graça Aranha. Em 1940, conheceu a poetisa Maria da Saudade com quem se casou no final da mesma década e viajou para a Europa com missão cultural, onde proferiu conferências. Mudou-se para Itália e se tornou professor da Cultura Brasileira e Literatura Brasileira na Universidade de Roma. Suas obras foram difundidas por toda Europa, onde ficou conhecido, inclusive por um círculo de amizades de artistas renomados, como: Miró, Breton, Ezre Pound e poetas brasileiros. 
   Embora seja um escritor pouco lido ainda hoje, a obra de Murilo Mendes apresenta uma superior qualidade literária. Sua produção poética permite destacar alguns aspectos - tanto temáticos quanto lingüísticos - que apontaremos a seguir, sempre lembrando que nenhum esquema dá conta da complexidade da obra de um bom poeta. O melhor mesmo é ler muitos poemas do autor.
 1) Humor e ironia como instrumento crítico:
Esse é o tom dos poemas que herdam algumas características da primeira fase do Modernismo. Predominam em História do Brasil, homo brasiliensis. O homem é o único animal que joga no bicho.                                                                                      Numa edição que preparou para sua obra, Murilo Mendes excluiu o livro História do Brasil, afirmando que este livro destoava do conjunto de sua obra.         
2) Surrealismo:
É a concepção de mundo que aparecerá em boa parte de sua obra. Entenda-se Surrealismo em Murilo Mendes não apenas como o aproveitamento das técnicas daquele estilo, mas da própria concepção surrealista de mundo: ao mundo verdadeiro, mutilado e injusto, o poeta apresenta, como contraponto e forma de reflexão, um mundo de delírio e sonho, em que a lógica desaparece. Negando a realidade concreta, o poeta chama a atenção para o absurdo dela.                         
3) O cristianismo:
Não um cristianismo comportado, mas até insolente, em que a esperança valia mais que a crença.
No cristianismo de Murilo Mendes ressaltam três aspectos:
a) a ênfase sobre a finitude do homem e a promessa da imortalidade da alma;
b) o heroísmo de Cristo, visto mais como homem que como Deus;
c) o paralelo que estabelece entre poesia e o martírio: o poeta é a testemunha do sofrimento, não só do próprio como do coletivo. A poesia é o veículo de libertação desse sofrimento ("vinde a mim órfãos da poesia"). Esse cristianismo predomina em Tempo e eternidade, obra escrita em conjunto com Jorge de Lima.                  
4) Barroquismo:
Mesclado ao surrealismo e à religiosidade, muitas vezes o misticismo de Murilo Mendes se expressa num dualismo e em antíteses que revelam uma visão barroca de mundo. É a tônica de contemplação de Ouro Preto.
5) Experimentação lingüística:
Testemunhando a perene inquietação do poeta e seu espírito de pesquisa com novas formas de composição, os últimos livros - especialmente Tempo espanhol, Poliedro e convergência - são constituídos de textos que oscilam entre a poesia e a prosa, com emprego freqüente de sinais gráficos com finalidade expressiva, neologismos, jogos de palavras, berrando o concretismo. É importante observar, no entanto, que Murilo Mendes sempre fez questão de afirmar que não pertencia a nenhuma "escola".
Em conclusão: toda a obra de Murilo Mendes revela a tentativa de conciliar, através da experimentação, os traços antagônicos da educação que recebeu, de seu temperamento e de seu caráter. Revela o homem em conflito com a realidade, que procurou criar uma arte engajada nas questões sociais mais prementes de seu tempo e, sobretudo, uma arte engajada ao seu espiritualismo cristão.




OBRAS:




"Poemas" (1930), "Bumba-meu-poeta" (1930), "História do Brasil" (1933), "Tempo e eternidade" - com Jorge de Lima (1935), "A poesia em pânico" (1937), "O Visionário" (1941), "As metamorfoses" (1944), "Mundo enigma" e "O discípulo de Emaús" (1945), "Poesia liberdade" (1947), "Janela do caos" - França (1949), "Contemplação de Ouro Preto" (1954), "Office humain" - França (1954), "Poesias (Obra completa até esta data)" (1959), "Tempo espanhol" - Portugal (1959), "Siciliana" - Itália (1959), "Poesie" - Itália (1961), "Finestra del caos" - Itália (1961), "Siete poemas inéditos" - Espanha (1961), "Poemas" - Espanha (1962), "Antologia Poética" - Portugal (1964), "Le Metamorfosi" - Itália (1964), "Italianíssima (7 Murilogrami) - Itália 1965), "Poemas inéditos de Murilo Mendes" - Espanha (1965), "A idade do serrote" (1968), "Convergência" (1970), "Poesia libertá" - Itália (1971), "Poliedro" (1972), "Retratos-relâmpagos, 1ª série" (1973),"Antologia Poética" (1976) e "Poesia Completa e Prosa" (1994).

A poesia acima foi publicada na revista "Letras e Artes", publicação do dia 07 de novembro de 1948 - Rio de Janeiro, na seção "Páginas da Poesia Moderna", e nos foi remetida pelo amigo João Antônio Bührer.


PUBLICADO POR:



Jhefley Giovani Dos Santos


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